A secretária da pasta tem mostrado em apenas um ano de gestão que a cultura e a arte podem e devem fazer parte do cotidiano do maceioense e devem ser reconhecidas como um direito constitucional.
O que o mundo jurídico tem em comum com as manifestações culturais? Bem, no caso da pasta da Cultura de Maceió, a jurista Mirian Monte tem liderado com êxito, sua multifacetada trajetória que brota das correntezas da poesia e deságua no mundo da jurisprudência tem sido o elo entre Mirian e uma das secretarias mais bem avaliadas na gestão de JHC. Sua história dá conta de justificar o sucesso que tem sido sua gestão à frente da pasta, e não é apenas por sua inegável competência, mas seu contato direto com a cultura, música, teatro e artes constitui uma plena bagagem para tocar os projetos da FMAC.
Mírian da Silveira Monte é graduada em Direito pela Universidade Federal de Alagoas, mas desde sua infância tem contato com o mundo da poesia, através de uma obra do paraibano Sandoval Caju surgiu seu encanto pelo mundo dos versos e prosas, com cerca de sete anos de idade, a partir daí embarcou em uma viagem pelas artes e Mirian desenvolveu sua veia poética, teatral e musical. Criativa e comunicativa promovia eventos como líder de turma, organizando aberturas, concursos e festivais de música ainda na escola. Na dança encontrou no baléclássico, que praticou por mais de 10 anos, os passos que a levaram para outros ritmos regionais, se aventurou no samba do Coco de Roda, nas marcações da Quadrilha, no cortejo da Taieira, no balanceio da Baiana e na sátira do Pastoril, todo esse passeio cultural na vida de Mirian nutriram as fibras que constituem os laços da jurista com a cultura.
Mirian carrega em sua ascendência o privilégio de ser bisneta da primeira mulher paraibana que conquistou o direito ao voto no Brasil, em 1930, seu laço com a notável Isabel Iracema Feijó da Silveira rompe as barreiras sanguíneas, e a carreira da paraibana que foi poetisa, correspondente de diversos jornais impressos no país e ajudou a fundar a Academia Alagoana de Letras inspira eé referência para a secretária, que eterniza seu legado não apenas ocupando a cadeira número 20 da academia, que pertenceu a sua bisavó, mas levando para sua carreira política a garra e a luta de uma mulher que já representava a batalha feminista desde a década de 1930.
Com o passar dos anos desabrochou seu amor pelo teatro, curso pelo qual a jovem teve de abrir mão para seguir sua jornada no direito, onde viria a construir uma carreirasólida muito cedo, ingressou no curso de direito da UFAL aos 16 anos, passou por estágios em órgãos como o Ministério Publico Federal e Procon, tendo trabalhado também com o ex-procurador da república Marcelo Toledo, desde cedo desenvolveu muita pratica no trabalho jurídico, após a formação, já com OAB, foi logo chamada para o concurso do tribunal de justiça de Alagoas ate ser chamada para atuar como delegada civil na Paraíba aos 23 anos, de 2003 a 2005, posteriormente assumiu no Judiciário Federal como Analista Judiciaria da Justiça Federal, também atuando como professora de direito.
Nesse caminho seus alunos perceberam sua veia politica, professora de direito constitucional, estimulava seus alunos a se questionar sobre as principais decisões politicas voltadas aos direitos humanos e fundamentais, acabou sendo incentivada pelos alunos a ingressar nacarreira politica, através de uma enquete feita na internet foi notada pela assessoria do prefeito JHC, como admiradora de seu trabalho aceitou o convite para conhecer o partido do prefeito de Maceió e se encantou com a historia do PSB, que tem seu estatuto assinado por figuras como Arnon de Melo e José Lins do Rego, se identificando com as causas que o partido defende e sua ideologia, como as preocupações com os direitos humanos, combate às desigualdades e o estímulo à cidadania, terminou criando coragem e se filiou ao partidose lançando em 2020 a candidatura como vereadora.
Sua candidatura foi impulsionada pelo seu idealismo em lutar pelo coletivo e o descrédito que desenvolveu pela velha política que assistia se repetir ano após ano, então mesmo em um período complicado decidiu dispor toda a sua experiência para lutar pelo cidadão maceioense na Câmara de vereadores, a contragosto de todos, ela acreditou ser possível abraçar o desafio como algo pessoal e expor sua imagem como um novo rosto na política e com a proposta de “buscar um bom eleitor” que desse valor ao seu voto, Mirian conseguiu conquistar quase mil votos, sendo a candidata mais bem votada do partido, mesmo sem experiência de campanha.
Sua vitória não veio nas urnas, mas a vitória política foi garantida. Já acostumada com desafios, estando em um panorama majoritariamente masculino quando assumiu o cargo de delegada em outro estado, repetiu o feito aqui em Maceió, mesmo gostando muito de seu trabalho como servidora federal, Mirian aceitou a tarefa de liderar a pasta da cultura e alçar voos com causas que ela se identifica durante toda a sua historia, saindo da linha formal do direito e mergulhando na magia que a cultura proporciona, segundo ela, consegue agora encontrar sentido para todas as vertentes na qual caminha, seja no direito, na politica ou nas artes, unindo todas as suas vocações para trabalhar pelo direito coletivo e compreender a cultura como um direito constitucional que deve ser assegurado e difundido, sendo assim tem testemunhado a clareza da comunidade cultural e da população que agora podem ter essa compreensão.
O convite para assumir uma das pastas mais bem avaliadas de Maceió
A candidatura à vereadora e o empenho durante a campanha rendeu o despertar de JHC para a incansabilidade de Mirian, além disso, o atual prefeito teve a sensibilidade de perceber o vínculo que a secretária nutre com a cultura, o que resultou no convite para compor a equipe e fazer parte da transição da FMAC, sendo assim, Mirian foi cedida pela Justiça Federal para assumir a pasta municipal da cultura e seu empenho tem sido reconhecido pela população.
A FMAC foi o primeiro órgão do município a ter um sistema virtual implantado efetivamente para os processos, funcionando 100% de forma digital, estabelecendo um fluxo de processos, também capacitando e ensinando os servidores a trabalharem não apenas como artistas que estão no serviço público, mas também como funcionários públicos dotados de conhecimentos técnicos. “Ali nós temos artistas, dançarinos, músicos, coreógrafos, artistas plásticos, fotógrafos, todos são artistas, eles sempre foram artistas, mas naquele momento eu precisei ensiná-los também a serem servidores públicos, hoje eles exercem com maestria essa função e conseguem separar e diferenciar muito bem, mas eu também precisei capacitá-los, ativar meu modo professora.
Então acredito que a Fundação hoje está funcionando muito bem, pois todos ali amam o que fazem, amam a cultura e a arte e compreenderam que para que possamosrealizar um trabalho eficiente, para podermos levar cultura para todos os lugares e despertar o senso de pertencimento e a identidade cultural de toda população precisamos também ser servidor publico, precisamos saber os trâmites administrativos e como se portar enquanto servidores públicos perante o público, isso tudo eu consegui trazer para eles, também de fazer com que todos compreendessem que ali estamos lidando com direitos, direitos culturais.”, conta Mirian.
Os desafios da gestão
“Fazer cultura no Brasil é muito difícil, por que as pessoas não conseguem compreender que se trata de direitos culturais e não conseguem compreender que os artistas nasceram com aquele dom e ele precisa sobreviver e viver dignamente exercendo aquele dom, nem todos os artistas conseguem desempenhar uma função em outra área, é por isso que nós precisamos capacitar os artistas, fortalecer o seguimento para que eles possam viver plenamente de sua arte, estamos ainda muito distantes disso porque é preciso tratar a questão da consciência coletiva, pois ali não se trata de um hobby, se trata de um dom, um talento, uma profissão, como qualquer outra que merece ser respeitada e fortalecida. Mas estamos caminhando para a criação dessa consciência coletiva.”
Num primeiro momento se deparar com uma pandemia global dificultou e muito a transição das secretarias, e para Mirian a estratégia inicial foi de escutar a todos os segmentos, artistas, lideranças, colegiados e indivíduos para assim traçar o perfil, demandas e necessidades da cultura em Maceió, em paralelo estabeleceu a sistemática de trabalho e capacitou os servidores, outra estratégia foi se envolver com a parte operacional da pasta, além dos compromissos políticos.
Editais
Mais de 17 editais foram lançados apenas no primeiro ano da gestão, além de parcerias com sociedade civil, acordos de cooperação e colaboração, termos de fomento e diversos projetos que estão movimentando a cultura do município. Com a aprovação do orçamento atrasada, tendo sido aprovado apenas em junho do ano passado, engessados com relação ao lançamento de editais e também impossibilitados de realizar eventos com plateia por conta da pandemia, a cultura se empenhou em capacitação e vias alternativas para movimentar a arte na capital alagoana.
“Nós fizemos no início do ano o projeto ‘Arte que te quero viva’ em parceria com a Associação Cultural Joana Gajuru, em 16 finais de semanas recebemos todos os gêneros musicais e transmitimos os shows através de livese conseguimos arrecadar mais de 3 toneladas de alimentos que foram revertidas para a comunidade cultura, para os artistas que estavam impossibilitados de se apresentar. Depois disso fizemos o São João Virtual e foi um sucesso, transmitimos em nove canais na internet, conseguimos contratar todos os Cocos de Roda e todas as QuadrilhasJuninas do município, com uma quantidade de integrantes limitada a 10 participantes por grupo que se apresentaram na Associação Comercial, contratamos 21 bandas e 36 trios de forró com o projeto ‘Forró Correndo no Centro’.
Em seguida fizemos uma live lembrando o carnaval que não vivemos, com a participação da orquestra do Pinto da Madrugada e das escolas de samba, o ‘Vamos Jaragonear’ nas escadarias da Associação Comercial, além disso, quando começou a haver a oportunidade de reunir publico,ainda que pequeno, nós fizemos no dia 1º de agosto o evento ‘Sobreviver e Resistir: a África é logo ali’, contemplando a nossa cultura afro, foi uma demanda dos grupos afros para que nós movimentássemos o seguimento, depois que orçamento foi aprovado lançamos uma sequencia de editais que tinham formato para atender os convênios federais que não puderam ser executados ano passado em virtude do atraso na aprovação do orçamento e porque boa parte deles era presencial, estamos trabalhando para viabilizar esses convênios agora em 2022.”
Os editais possibilitaram agora a contratação, pois eles estão vinculados aos convênios, mas há uma possibilidade de serem utilizados no âmbito do município. Editais como o “Vem pra praça” e o “Toca tudo MCZ” estão sendo finalizados para credenciar esses grupos e bandas e artistas para conferir celeridade na contratação, ou seja, quem estiver credenciado será convocado para compor a grade oficial das apresentações que ocorrerem no município durante o prazo de validades destes editais.
No ano passado também tivemos o corso fora de época,que contou com um desfile de carros antigos e a presença do bloco Pinto da Madrugada, um carnaval fora de época, já em outubro o Fmac Kids levou as crianças no bairro do Eustáquio Gomes para comemorar o Dia das Crianças, fechando o mês com o 1º Festival de Cultura Nerd que foi uma surpresa para todos mostrando a magnitude da cultura nerd na cidade e consolidando o segmento que atraiu um publico extenso, tendo recebido cerca de 16 mil pessoas em dois dias de evento na praça Multieventos.
Em novembro o evento “Saurê Palmares” foi feito no contexto do “Vamos Subir a Serra” que levou mais de 20 grupos afros e bandas para a Praça Multieventos, em seguida realizamos o aniversário de Maceió com uma semana levando para diversos bairros nossos grupos culturais com folguedos e bandas. Fizemos o primeiro evento gospel do município prestigiando a música gospel no bairro do Benedito Bentes e logo em seguida a “Festa das Águas”, mais um evento importante para a cultura afro. O evento dos bumba-meu-boi foi realizado com um formato diferente, os grupos que estavam parados por conta da pandemia se apresentaram sem o teor de competição por premiações.
O natal de folguedos durou 10 dias com dois cortejos de natal que contou com vários grupos culturais credenciados que se apresentaram nos vários pontos ornamentados da orla de Maceió, quem passava pode contemplar todos os representantes da nossa cultura popular, finalizando o ano com o verão cultural “Maceió é Massa!”, que está levando os grupos culturais e artistas locais no contexto de verão.
Novos projetos
“Os próximos projetos vem trazendo a continuidade de promover cultura por todos os cantos de Maceió, vamoscontinuar entrando pela cidade realizando o contato da população com a cultura e facilitando o acesso de todos ao bem jurídico cultural”, fala a secretária.
Nos próximos passos a cultura pretende dar continuidade contratando e estar sempre convocando, mediante os editais de credenciamento a velocidade e facilidade para essas contratações será maior, conferindo ritmo e dinamismo às ações culturais e às demandas relacionadas à cultura. Para Mirian “é preciso agora haver uma maior concentração na consolidação dos direitos e ampliação da legislação no fortalecimento das nossas leis municipais relacionadas à cultura, existe um uma carência muito grande nesse âmbito de positivação e de garantia dos direitos culturais. É partir agora realmente para fortalecera cultura em termos jurídicos e legislativos, ampliar o diálogo e o debate”.
A pasta realizou também uma eleição que estabeleceu um importante colegiado que vai atuar na discussão dos assuntos importantes relacionados a cultura de Maceió diante da necessidade da ampliação do diálogo e o acesso democrático aos bens culturais, uma das grandes conquistas da gestão, fazer funcionar o Conselho de Políticas Culturais com uma eleição transparente e com a efetiva participação dos membros da cultura de Maceió.
Atualmente Mirian Monte está atuando também como vice-presidente do conselho deliberativo do CSA, o futebol como uma das manifestações do povo alagoano também faz parte dos encantos da artista-jurista, que atua de forma participativa para fazer a ponte entre a torcida e o clube.
“Estou caminhando e a cada dia que passa me sinto mais corajosa, outros desafios que vierem surgindo abraçarei com a vontade de viver todas as experiências, mas principalmente de dar minha contribuição ao mundo. Eu não consigo mais viver só para mim, eu tenho que viver para o mundo”, reflete.