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O lazer da população é o terror dos bacanas da Ponta Verde

Cazuza pode ser considerado atualmente o ápice do mainstream, mas em termos de coerência em crítica social o cara brilhava. O conhecido trecho da música que fala “enquanto houver burguesia, não vai haver poesia” é cirúrgico, no caso de Maceió, que está longe de ser dotada de burgueses, podemos fazer uma adaptação, enquanto houver os bacanas da orla não vai haver entretenimento.  

Não é de hoje que a classe média e classe média alta que reside naquelas imediações sofrem com a síndrome do condomínio fechado, morando em frente a uma das mais belas orlas do país, os bacanas da Ponta Verde nutrem a frustração de não ter conseguido lacrar aquela região com muros e cancelas, para assim evitar que a população circule na área. Deve ser muito difícil lidar com o povoque trabalha a semana inteira e aos finais de semana procura um lazer gratuito, do alto de seus apartamentos localizados em um dos mais caros metros quadrados do país, a nova classe média esbraveja a qualquer indício de aproximação da população periférica no local.

Quem se lembra do saudoso Maceió Fest também se recorda de quando foi anunciado seu fim há mais de 10 anos, o motivo? Os moradores dos bairros “nobres” da capital não gostavam nem um pouco do carnaval fora de época, era incômodo lidar todos os anos com uma festa para os moradores da cidade, para a “elite” de Maceió o único evento com aglomeração e barulho aceitável são as passeatas patriotas que servem para espalhar vergonha e hastear bandeiras do Brasil em suas janelas. Ou seja, um evento que contava com boa estrutura, foi considerado por três anos seguidos um dos melhores carnavais fora de época do país e tinha aprovação de 75% da população chegou ao fim por conta de meia dúzia de pessoas.

Refiro-me à “elite” de maneira irônica, já que entre poucos juízes e políticos (que certamente procuram refúgio em suas longínquas casas de veraneio) se conglomeram os funcionários públicos, aposentados e estrangeiros que se consideram donos do local. Tentar realizar eventos por ali tem sido um verdadeiro martírio, a atual ação da prefeitura de Maceió com o “Maceió é Massa!” e a instalação de pontos criativos, que estão atraindo centenas de pessoas todos os dias e alavancando o turismo na cidade, está aí para provar a pouca ou nula receptividade dos residentes da orla. 

A bola da vez, a Cadeira Gigante da Ponta Verde, desde que foi inaugurada tem causado filas quilométricas recheadas com moradores e turistas que querem garantir uma foto no monumento, mas como era de se esperar, os quase donos dali já tomaram as devidas providências. O local precisou ter a rua parcialmente fechada para receber a escultura e para os nobres pontaverdenses isso é um absurdo sem precedentes. Agora o Ministério Público foi acionado para questionar a necessidade de fechar a rua já que os moradores da região alegaram transtornos no trânsito por conta da interdição. 

É preciso um poder publico que bata de frente com essa atitude elitista de reverenciar e beneficiar quatro gatos pingados que movimentam tudo ao seu bel prazer por dinheiro, se você gostaria de paz, sossego e água fresca, isolado, sem barulho e sem o povo, compre uma ilha! Maceió é conhecida como a capital sem carnaval por conta deles, o sossego é forçado e imposto.

Sinto dizer, mas enquanto houver justiça e pessoas trabalhando pelo bem comum a cidade será livre para a circulação de todos, para o lazer e cultura de qualidade e de braços abertos para receber quem quer que seja, afinal, o maceioense é assim, receptivo e caloroso, nossa cidade não poderia ser diferente. O privilégio de gozar das belezas da cidade não deve se ater ao turista, ou a quem tem um poder aquisitivo maior, ora, também pagamos impostos, não é possível que até a possibilidade de diversão nos seja arrancada por criaturas que sequer conseguem alcançar o alpinismo social.

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