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Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil ressignifica vidas de usuários e familiares

Serviço do Município atende crianças e adolescentes com graves transtornos mentais e reforça a importância da luta antimanicomial
Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil ressignifica vidas de usuários e familiares
Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela garantia dos direitos das pessoas com sofrimento mental e defende o cuidado em liberdade. Foto: Ascom SMS
“Eu cheguei no Capsi numa situação que nem eu acreditava. Já tentei suicídio várias vezes antes de chegar aqui. Um certo dia, um conselheiro tutelar me apresentou o Capsi e, a partir daquele dia, minha vida ganhou um novo sentido.”

O relato emocionante é de uma jovem de 16 anos, que nesta matéria será chamada de Alice. Devido à ética jornalística, ela e os demais adolescentes citados na reportagem ganharam nomes fictícios para preservar suas respectivas identidades.

A adolescente participa das atividades do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) Dr. Luiz da Rocha Cerqueira há um ano. Alice é uma das participantes que recebe acolhimento e assistência em saúde mental na unidade, na qual o cuidado em liberdade é trabalhado diariamente.

Atualmente, a jovem já não pensa mais em dar fim à sua vida. Ao contrário desta triste ideia outrora planejada, Alice encontrou razões para viver através do apoio dos profissionais do Capsi – lugar que ela mesma enfatiza como sendo a sua “segunda casa” – participando de oficinas e atividades para desenvolver seus talentos e a sua criatividade.

Sendo o eixo central do Movimento da Luta Antimanicomial, o cuidado em liberdade garante os direitos de pessoas com sofrimento mental e se caracteriza por combater a ideia de isolamento do cidadão em um manicômio para realizar tratamentos, algo também baseado em preconceitos que cercam os diversos transtornos psíquicos. Todavia, o movimento faz lembrar que como todo cidadão, estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, a viver em sociedade e receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.

O Capsi Dr. Luiz da Rocha Cerqueira é uma das unidades de saúde do Município que atua com esta perspectiva. Situado no bairro Serraria, no Conjunto José Tenório, o equipamento atende crianças e adolescentes que apresentam intenso sofrimento psíquico, decorrentes de transtornos mentais graves e persistentes.

“O cuidado em liberdade é fundamental para que os nossos usuários e seus familiares entendam que saúde não é só ausência de doença, mas o bem-estar físico e mental. Queremos que eles sejam protagonistas nesse processo e não pensem que o Capsi é algo mecânico ou isolado, onde só há uma consulta junto à medicação. Mas, sim, um lugar em que há um processo de integração entre comunidade, serviço e profissionais, para que haja uma evolução do quadro e o desenvolvimento das potencialidades dos usuários”, afirma a gerente do Capsi, Thyone Assunção.

O psiquiatra do Capsi, Felipe Nobre, ressalta o papel da unidade na vida de pessoas que sofrem de algum adoecimento mental, pontuando a importância de garantir o vínculo entre o usuário e a família durante o processo de cuidado em liberdade.

“Antigamente, o paciente que sofria de um adoecimento mental e que morava no interior tinha que ir até a capital para ser atendido em um hospital psiquiátrico e, muitas vezes, ser internado e ficar longe de sua família, sem receber nenhum cuidado. Os Centros de Atenção Psicossocial vieram justamente para quebrar essa lógica e trazer o cuidado para dentro do território. Aqui, os profissionais têm um contato muito maior com os familiares e os pacientes têm trânsito livre, eles não são internados. Esse é o cuidado que oferecemos, uma psiquiatria sem correntes, onde os usuários não precisam ficar distantes dos seus familiares e sem o cuidado territorializado”, explica.

Um lugar de acolhimento

Amanda, 16 anos, é mais uma adolescente usuária do Capsi. Ela, que também sofre de transtornos mentais severos, recebe tratamento na unidade desde os 5 anos de idade. Durante esse tempo, a jovem só teve melhoras em seu comportamento. Sua mãe, Edna da Silva, reforça a importância do Capsi para a saúde mental de sua filha.

“O Capsi é um lugar que abraça e acolhe. Aqui nós fomos muito bem acolhidas e minha filha recebeu o tratamento necessário para que ela tivesse uma excelente melhora. Antes, ela era muito violenta, tinha comportamentos agressivos. Hoje a realidade é outra, ela está crescendo bem mais calma e vivendo bem em sociedade”, relata.

Dona Lêda Souza é mãe da Karine, 14 anos, e do Gustavo, 11 anos. Ambos foram diagnosticados ainda quando eram bebês com o Transtorno de Espectro Autista (TEA). A jovem Karine, usuária do Capsi há oito meses, teve uma melhora significativa em seu comportamento após iniciar o tratamento na unidade.

“Desde que eu comecei a trazer minha filha ao Capsi, nós fomos muito bem tratadas. Fiquei muito tempo sem conseguir um tratamento para ela, mas depois que descobri essa unidade foi maravilhoso. Minha filha melhorou muito, ela começou a socializar e a falar mais, e antes o mundo dela era totalmente escuro, tanto pra ela como para mim, pois muitas coisas eu não conseguia compreender para que eu pudesse ajudá-la”, comenta.

Sobre o Capsi

O Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi) Dr. Luiz da Rocha Cerqueira atende crianças e adolescentes, de 5 a 18 anos, em sofrimento psíquico intenso, junto com seus familiares, focando no alívio do sofrimento, nas potencialidades e na qualidade de vida. Os Centros oferecem um atendimento interdisciplinar, composto por uma equipe multiprofissional que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre outras especialidades.

O serviço atende demandas como Transtorno do Espectro Autista (TEA), depressão, esquizofrenia, transtornos de conduta, transtorno de personalidade e sofrimento psíquico grave.

As crianças e adolescentes podem ser encaminhados pelos serviços de saúde, escolas, conselhos tutelares, Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas) e demanda espontânea.