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A apoteose da posse de Luiz Inácio Lula da Silva

Foto: Ricardo Stuckert

 

Contrariando as tensões que precederam a virada do ano em Brasília, o 39º eleito Presidente da República, desfilou em carro aberto acompanhado de sua esposa e agora primeira dama, seu vice e esposa a bordo do tradicional Rolls-Royce presidencial conversível, presença confirmada nos principais eventos do país desde a década de 1950. A cerimônia de posse, evento oficial que marca a transição de poder de um chefe de estado para outro, transfigurou-se em um simbolismo que transcende o caráter oficial da cerimônia.
Desde o dia 31 de dezembro de 2022, Brasília, que está longe de ser um ponto turístico para os que buscam curtir o réveillon, tornou-se palco de intensas comemorações de grupos e caravanas que ocuparam a capital do país no aguardo do acontecimento que marcaria a retomada da democracia brasileira, mesmo a contragosto dos que ainda questionam as urnas e há cerca de 60 dias ocupavam as portas dos quartéis clamando por intervenções antidemocráticas.
Pois bem, o escaldante sol de Brasília aqueceu os ânimos, mas num bom sentido, o clima era de alegria, comemoração e esperança, em paralelo, as concentrações e acampamentos de apoiadores do Jair se dissipavam, para dar lugar a um carnaval fora de época que abriria as comemorações dos eleitores de Lula. O Brasil aguardou em um hiato de pelo menos 15 horas sem ter um presidente para chamar de seu, até o momento que todos os olhares se voltavam para o senhor de 77 anos que, pela terceira vez, assumiria o cargo mais importante do país.
E assim o fez, a apoteose da chegada do pernambucano de Caetés encheu os pulmões de 40 mil apoiadores que avermelharam a Praça dos Três Poderes, devidamente cercado por 40 seguranças que trotavam em torno do veículo presidencial, conduzindo o novo chefe de estado ao Congresso Nacional para dar início aos procedimentos oficiais de sua posse. A presença de mais de 70 delegações estrangeiras compostas por chefes e vices-chefes de Estado, de Governo e de Poder, além de ministros de negócios estrangeiros e enviados especiais confirmou a importância e o simbolismo desta transição de poder.
Em plenária, introduziu o ato de assinatura do termo de posse com uma breve história sobre a caneta que ganhou em 1089 de um eleitor do Piauí, na qual utilizou para chancelar o documento, seguiu, então com o discurso mais brando e reto no qual direcionou alfinetadas ao mandatário anterior que, desta vez, pode ter recebido as pontadas debaixo das cobertas de algum pomposo hotel em Orlando (EUA), local que escolheu para passar as férias com sua família, por pelo menos três meses. Ao firmar seu compromisso em resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, Lula finda seu discurso ao proferir a ressoante frase “Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre!”
Após a solenidade, um breve descanso e as devidas honras militares prestadas ao presidente, Lula, Alckmin, Janja e Maria Lúcia, novamente a bordo do Rolls-Royce seguiram ao Palácio do Planalto, onde, no que pode se considerar ponto alto da cerimonia, e sob as indagações de quem passaria faixa presidencial, Lula subiu a rampa acompanhado de oito representantes do povo brasileiro, sendo eles Francisco Carlos do Nascimento, uma criança negra de 10 anos; Aline Sousa, de 33 anos, catadora de recicláveis desde os 14 anos; o cacique Raoni Metuktire, de 90 anos; Weslley Viesba Rodrigues Rocha, metalúrgico de 36 anos; o professor Murilo de Quadros Jesus, de 28 anos; a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos; o influencer Ivan Baron, jovem potiguar que tem paralisia cerebral e o artesão Flávio Pereira, de 50 anos.
Em um gesto que lembrou o da passagem da tocha olímpica, a faixa presidencial passou de mão em mão até chegar às mãos da catadora de reciclagem, Aline Sousa, que a entregou ao emocionado presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sob o clamor de seus apoiadores que gritavam “Sem Anistia” em referência aos supostos crimes cometidos por Bolsonaro, Lula derramou lágrimas ao falar da fome que o brasileiro tem enfrentando nos últimos anos.
Em um de seus últimos compromissos oficiais, Lula chegou ao Itamaraty por volta das 21h onde foi recepcionado por mais de 60 delegações internacionais, sendo assim, seu governo reabre as portas para o mundo que estavam travadas diante de um governo escasso em diplomacia. Seu primeiro ato se deu ainda no primeiro dia ao assinar o primeiro pacote de medidas do novo governo, com destaque para o despacho determinando que a Controladoria-Geral da União (CGU) avalie, em 30 dias, decisões sobre sigilo, uma de suas principais promessas de campanha.
A quebra de protocolos e a subversão de tradições transformou a posse do 39º Presidente da Republica em um ato histórico que certamente entrará para os anais da história política Brasileira.

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