Há duas semanas, crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) estão sem receber o medicamento controlado Risperidona devido ao atraso no fornecimento por parte do Governo do Estado. A denúncia foi feita por duas mães atípicas de Maceió, nesta quarta-feira (15), à reportagem do portal O Quarto Poder. O remédio, cuja principal função é manter o equilíbrio da dopamina e serotonina no cérebro, é fundamental para manter a qualidade de vida das pessoas com TEA e, consequentemente, do bem-estar de toda a família.
Érika da Silva, de 30 anos, é mãe de duas crianças autistas, Samuel, de 4 anos, e Sarah, de 6 anos, que, além de ser diagnosticada com TEA nível 3, também tem Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Ela conta que a cada dois meses precisa do medicamento para permitir o tratamento contínuo dos seus filhos e que o atraso na entrega do remédio está se tornando recorrente.
“Essa é a segunda vez que falta e todo dia eles ficam dizendo que vai chegar, mas nunca chega. Eu tive que tirar do próprio bolso, porque minha filha já estava ficando muito agressiva, sem querer ir pra creche, se mordendo, arrancando parte do meu cabelo, se jogando no chão”, desabafou Érika, cuja angústia reflete a realidade de muitas mães atípicas que tem sofrido com a negligência do Estado.
A mãe de Sarah e Samuel contou ainda que as doses que conseguem comprar são insuficientes para o tratamento original prescrito pelo psiquiatra. “Na verdade, meus filhos precisam tomar de manhã, de tarde e de noite, mas eu só dou à noite pra poder render, pois não sei quando iremos receber a medicação novamente”, denunciou.
Paula Aniceto, de 38 anos, é mãe de Samuel, de 6 anos, diagnosticado com TEA nível 1 e Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e também desabafou sobre o drama que está vivendo com o descaso do Governo. “Meu último frasco está acabando e já estou aflita, porque no mês retrasado aconteceu a mesma coisa e meu filho ficou sem remédio”, relatou.
Ela contou ainda que diversas vezes chega ao posto para retirar os remédios e a enfermeira responsável pela liberação não se encontra no local. “Nesses casos, mesmo se houver estoque, a gente fica impedida de receber os medicamentos porque só pode ser liberado por essa enfermeira. E se você ligar pra lá, eles nem atendem”, denunciou.
O caso trazido por essas mães é uma clara violação dos direitos básicos das crianças autistas e suas famílias. O estresse causado pela incerteza e pela luta contínua para garantir tratamentos adequados impacta não apenas a saúde física e mental das crianças, mas também o aprendizado escolar e a estabilidade emocional das famílias.