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Maceió é Massa, mas Algoinhas é ruína.


Morar em uma cidade que é considerada o Caribe brasileiro é pra poucos, na verdade, para cerca de 1,025 milhão de pessoas que têm à sua disposição algumas das mais belas praias do nordeste. Destes tantos, alguns privilegiados gozam da rotina diária de levantar de suas camas, vestir-se a caráter e praticar seus exercícios físicos com vista para o mar, sentindo a brisa praiana recheada de maresia e o aroma das algas marinhas levadas pelas ondas do mar que quebram sobre a areia alva das praias de Maceió. Poético né? Dá até vontade de pular da cama e correr uma maratona de ponta a ponta na orla da cidade.

Então certo dia, corriqueiramente, você resolve cumprir mais uma etapa de sua rotina saudável e se depara com uma ambiente completamente transformado, seu percurso que sai da orla da Cruz das Almas, aquela orlinha xoxa, coitada, quase deserta, te põe de cara com uma ruma de “tartaruguinhas” gigantes indo em direção ao mar. No mínimo surpreendente, mas vida segue, o cardio precisa continuar, o tempo corre e você precisa terminar seu exercício, acelera o passo, dá uma trotada e graças ao PIN instalado na orla da Jatiúca você consegue saber exatamente onde está, a latitude e a longitude informadas no espaço te orientam, nada de se perder, segue o caminho.

Mais a frente é possível avistar o totem de pedrinhas que te dá um lembrete do porque você tem prazer em realizar esse percurso diariamente, as pedrinhas ilustram o I ♥MCZ que formam a frase “I love Maceió”, dispensa tradução, apesar de estar em outro idioma é precisamente traduzido pelo coração do maceioense, a medida que o trote avança para uma corrida mais intensa, os batimentos aceleram e com ele a curiosidade do que mais está por vir, não é possível que parou por aqui.

E não parou mesmo, atravessando a avenida e pisando no Corredor Vera Arruda o céu fica colorido pelas sombrinhas que ornamentam o local, elas estão ali entre os coqueiros, trazendo um pouco de cor e vida a quem passa. Mas você segue em frente, o percurso ainda não acabou, e a vontade de explorar as novidades aumenta com a velocidade dos passos. Alguns quilômetros depois é possível avistar um trono de Corais, na orla da Ponta Verde agora todo mundo pode pagar de Posseidon e ainda contemplar o por do sol descansando nas redes disponíveis em um espaço muito Massa! Mas o bom corredor não pausa seu percurso, ele segue e dá as boas vindas para o ano que chegou junto com sua cidade, que agora conta com uma escultura anunciando o 2022 recém-nascido. 

Mesmo exausto o maceioense dedicado à rotina continua, sem esperar mais nada, afinal ele está se aproximando de uma área de ruínas, aparentemente o cansaço lhe causou delírios, e nosso corredor enxerga uma cadeira de praia monumental, do tamanho da sua exaustão. Mas espera, tem uma fila de gente de todos os lugares aguardando para sentar naquela cadeira e garantir uma foto, nem é miragem, é real. A maior cadeira de praia do mundo está bem na sua frente, inacreditável! Acompanhando a euforia dos que estão ali enfileirados também surgem críticos, suas selfies indignadas com o monumento não descreditam a ornamentação que atrai vários olhares, no frigir dos ovos o enxame de quem é do contra só vai servir para encher linguiça. 

O contraste de um evento recente conseguiu apagar uma atração histórica, mais a frente está o saudoso Alagoinhas, o que já foi motivo de orgulho para Maceió agora passa despercebido pelos olhos do corredor, as ruínas se esfarelam ali, com o peso das ondas do mar e da ação do tempo, tinha virado promessa de transformação, o que se tornaria um Marco Referencial que abrigaria praça de alimentação e eventos, concha acústica, quiosques, espaço cultural, camarins e mirantes com vista para o mar não passa de um amontoado de tentativas de obras inacabadas, a revolta do maceioense diante da importância do local se esvaiu à medida que as promessas foram surgindo na mesma velocidade em que o local foi se deteriorando, rapidamente.

Não é apenas o corredor que fechou os olhos para esse caso perdido, o poder publico também esqueceu, mas o dinheiro veio, os projetos também, mesmo que modificados diversas vezes, retomados e abandonados, notificados e paralisados, agora a quem enxerga aquele pobre pedaço de chão perdido em meio às águas azuis-esverdeadas deste marzão quente e convidativo, só resta dar uma esticada no percurso e fazer uma prece na capelinha da orla de Jaraguá, talvez os fantasmas da história que ali repousam ouçam nossas orações e um dia todos os maceioenses possam se tornar maratonistas que enxergam de verdade cada cantinho da nossa cidade.