A tirania calheirista é conversa velha no estado, dessa vez ela acomete aqueles que abrem mão das alianças e procuram outros rumos, a revoada tem sido grande em virtude do enfraquecimento do clã e de incompatibilidades ideológicas. Ora, se a democracia é constituída por ideologias diversas, desde que não firam a liberdade e integridade de outrem, qual o problema em alçar novos voos e buscar aliados convergentes com sua ideologia? Nenhum, mas para os Calheiros isso é uma afronta digna da mais vil perseguição.
É o caso do vereador Mesaque Padilha, de Coruripe, que conseguiu autorização tanto do MDB quanto da justiça para realizar sua desfiliação em novembro do ano passado, ainda sem partido, o edil está respondendo processo por infidelidade partidária movido pelo senador Renan Calheiros, este mesmo que faz oposição ferrenha à Bolsonaro e acusa sua tirania, mas age como um ditador aqui no estado, perseguindo e encurralando os que “soltam suas mãos”. Em conversa com o Quarto Poder Alagoas, o vereador Mesaque Padilha conta que todo o processo de desfiliação foi feito dentro da legalidade, com o aval do diretório municipal do MDB de Coruripe e dentro das diretrizes do partido, que inclusive a presidência do MDB estadual, liderada pelo Senador Renan, já estava informada da desfiliação do edil, que mesmo assim seguiu com o processo.
O vereador não se via mais em compatibilidade ideológica com o partido, por ser assembleiano e apoiador de Bolsonaro, diante da manifestação de apoio ao ex-presidente Lula e ao constituir palanque para o PT, o edil decidiu por se desfiliar e procurar uma legenda que estivesse de acordo com sua ideologia política. Deste modo, Renan Calheiros resolve comprar briga não apenas com a liberdade de expressão, mas com os fiéis da Assembleia de Deus que estão aderindo à pré-candidatura do vereador Mesaque a deputado estadual e, portanto, têmdireito a representação política.
Como toda tirania é cercada de hipocrisia, diversos vereadores conseguiram aproveitar a janela partidária para migrar de partido, mesmo estando impedidos pelas regras da janela já que só pode usufruir da janela partidária a pessoa eleita que esteja no término do mandato vigente, graças à influência do Senador Renan Calheiros. É o caso do vereador por Maceió, Brivaldo Marques, eleito pelo PSC, que assinou sua filiação ao MDB com direito a fotos ao lado do presidente da ALE, Marcelo Victor e do possível governador tampão, Paulo Dantas, tudo isso com afagos, sem nenhuma represália. Ou seja, para os Calheiros é muito bem vindo àquele que se rende ao canto da sereia, não existem regras, leis ou processos, do contrário, a coisa muda de figura. Pau que dá em Chico não dá em Francisco.
No fim das contas tudo se resume a uma coisa: despotismo. É assim que coronéis atuam, e movidos pelo desespero em manter sua soberania e na iminência de queda, procuram pelo em ovos, e os alvos estarão na mira até serem atingidos ou até que venha a queda. Os Calheiros usam as armas que eles criticam, numa tentativa de limpar sua imagem e assumirem uma postura amistosa e, surpreendentemente, de esquerda, a moda agora é essa, frente a um cenário anti-bolsonarista e embarcado no resgate de popularidade do ex-presidente Lula, os Calheiros correm de um lado para outro para abafar sua fama de coronéis e em paralelo calar aqueles que abriram os olhos definitivamente para enxergar o atraso que envolve esse clã que brada por justiça e liberdade, mas pratica o completo oposto.