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CHOCOLATE, PASSEIO, BAILE, O QUE VOCÊ QUISER!

O Flamengo jogou ontem? Essa foi uma pergunta frequente nas redes sociais. Um time apático e sem criatividade, foi assim que o atual campeão da Libertadores fez sua estreia na competição. O rubro-negro teve míseros 37% de posse de bola e sofreu 21 finalizações.

Estes números mostram como foi a goleada de 5 a 0 sofrida para o Independiente del Valle, pela Libertadores. Logo no primeiro teste na competição, e o estrago foi grande e expôs muitos aspectos erros num projeto ainda em construção, mas que sofre um forte golpe com tal resultado.

O Flamengo fez um jogo lamentável, fraco em diversos aspectos. Não foi possível ver uma identidade na equipe, uma forma estabelecida de jogar, não importa o adversário. E o preço por isso foi cobrado de forma categórica, contra o primeiro oponente com trabalho mais consistente e qualificado que se teve pela frente.

A altitude sempre será lembrada como um fator que dificulta quem vai a Quito enfrentar os times locais. Comparações com trabalhos anteriores são frequentemente rasas, mas é preciso ressaltar: no começo do ano, o Flamengo empatou com o Del Valle na mesma cidade, sob as mesmas condições, mas com uma atuação completamente diferente.

Não é exigir o nível de maturidade similar ao alcançado à época com Jorge Jesus, mas espera-se um certo nível de competitividade, em qualquer estágio do trabalho.

Escolhas erradas?

O Flamengo de Domènec esteve completamente exposto. Começou e terminou o jogo em marcha lenta. Com a bola, não sabia o que fazer. Sem ela, a estratégia proposta funcionou razoavelmente até o primeiro gol. Depois disso, foi por água abaixo.

Dome levou a campo um time no 4-3-3, o esquema que menos funcionou com o atual elenco desde a chegada do novo treinador. Diego e Gerson, alinhados, subiam para pressionar os zagueiros, e Gabigol marcava individualmente Pellerano, o volante que é o grande cérebro da saída de bola do time equatoriano.

A ideia era quase kamikaze: uma roubada de bola deixaria o Flamengo com o caminho mais curto para chegar ao gol. Gerson chegou a ter uma chance desta maneira. Por outro lado, qualquer escapada do Del Valle deixava os donos da casa com muito espaço no ataque.

Foi assim que o lateral-esquerdo Beder Caicedo caiu para o meio, recebeu com extrema liberdade nas costas de Diego e iniciou a jogada que resultou no gol de Moisés Caicedo.

Dome ainda tentou consertar as coisas no segundo tempo. Voltou ao 4-2-3-1, com Bruno Henrique no lugar de Diego. O time parecia ter melhorado: no primeiro minuto, Gabigol perdeu uma ótima chance na pequena área na única jogada trabalhada do Flamengo no jogo inteiro.

Passando o carro no Mengão

Preciado saiu da lateral direita, fez fila no meio-campo e, sem ser incomodado, apareceu na entrada da área para fazer um golaço. Em todo este tempo a defensa do Flamengo foi extremamente lenta.

Do segundo gol em diante, não houve mais jogo, e sim um baile do Independiente del Valle. O Flamengo ficou entregue. Não havia mais marcação, não havia mais a mais ínfima tentativa de articulação. A ponto de Schunke, zagueiro que no primeiro tempo foi tão vigiado por Gerson, sair de sua defesa, tabelar e carregar a bola até o ataque sem ser incomodado.

A naturalidade com que o Del Valle construiu a goleada expõe demais o Flamengo. A questão da altitude não pode explicar tudo. Não é a primeira vez que o time baixa seu nível após sofrer um gol e não mostra capacidade de reação, mas a passividade demonstrada, especialmente na marcação, é preocupante.

Além de todos os efeitos que gera, a goleada ainda tem uma outra faceta: dificulta ainda mais a caminhada de Dome. O técnico vai argumentar que precisa de tempo, e tem até razão. Mas como pedir paciência a uma torcida que se acostumou a golear – e não ser goleada?

O processo, claro, é lento e doloroso. Mas uma derrota deste tamanho faz com que as convicções sejam testadas, e a diretoria do Flamengo terá um papel importante para garantir a estabilidade do futebol rubro-negro no resto da temporada.